terça-feira, abril 19, 2005

O valor do fetiche na HQ

O mais moralista dos mortais pelo menos uma vez na vida teve algum desejo que gostaria que fosse realizado e aquele que diz que não tem esse tipo de pensamento ou não se interessa por sexo por algum tipo de criação repressora ou está falando a mais deslavada mentira.

Com certeza que a maioria das pessoas acha que os ditos “quadrinhos adultos” não passam de diversão de tarados que não tem o que fazer senão se excitar com sacanagem suja (na visão de uma boa parte de pessoas) e histórias que não passam nada além da promiscuidade que rege a vida dos depravados.

Isso é meia verdade, pois quem tem um pouco de juízo sabe que o que acontece em uma história erótica nada mais é do que uma mera fantasia que serve para distrair durante alguns momentos um leitor que teve um dia cheio e precisa esfriar a cabeça um pouco (se bem que esfriar a cabeça não é a idéia principal).

Para ser o que é hoje, os quadrinhos eróticos em todos os países do mundo tiveram que passar por duras provas até provar que não representam perigo para a sociedade.

Estranhamente não se começou um culto ao erotismo por causa dos quadrinhos, mas sim pelo cinema que dava para seus expectadores exemplos de beleza inatingível. Por exemplo, nos E.U.A isso representou durante muito tempo uma regra durante os anos 30 até meados dos anos 60.

Lógico que a moral da época impedia que as mulheres se expusessem como hoje (há quem diga que era melhor naquela época, pois apenas se imaginava como seria tal mulher sem roupa), mas o glamour da época não estava em vê-las nuas, mas interpretando na tela papéis que variavam entre a mocinha ingênua à garota má. Algumas atrizes que destacamos deste período, as quais arrasavam corações são musas como Bette Davis, Laureen Bacaal entre outras.

A animação estava experimentando novos rumos e chegava-se a resultados surpreendentes. Aí veio a personagem que iria abalar as estruturas: Betty Boop.

Com seu jeito ingênuo de ser e suas formas curvilíneas deixou muitos de cabelo em pé. Para acabar com os cardíacos de plantão sempre estava paramentada por vestidos tão curto quanto uma garota da atualidade.

Betty Boop, erótica? Mas ela não era um personagem de desenho animado? Sim, mas começou a incomodar as pessoas pelo jeito simples de ser e além do mais era um mau exemplos para os pequeninos e muitos não a viam como personagem animado, mas como uma mera dançarina de cabaré ( e pensar que ela hoje não é mais erótica do qualquer personagem da Disney).

Mas o erotismo acabou por aí, certo?

Lógico que não, com o surgimento de Betty Boop ( e de muitas antes ou depois dela) houve uma febre por histórias mais picantes, cheias de fetiches, com botas de couro e outros acessórios sadomasoquistas.

Era o começo da fase marginal dos quadrinhos eróticos.

Feministas de plantão ficaram carecas de tanto arrancar os cabelos por verem o que acontecia com as mulheres que eram vítimas desses "tarados" sem alma. Com o surgimento da Segunda Guerra Mundial, o erotismo vendeu mais que pão quente.

Para animar as tropas no Front surgiram as tão famosas Pin Ups que nada mais eram do que modelos que posavam nuas ou seminuas e cujas fotografias eram feitos pôsters que ficavam nos quartéis dos soldados. A mensagem que passavam era:

"Lutem pelo seu pais que poderemos sempre ter mulheres maravilhosas como essas".

Com certeza que no Japão as histórias eróticas estavam começando a despontar, mas ainda sofriam uma séria influência da Europa em sua forma, traço e conteúdo. Mas quanto a própria Europa, como as coisas estavam indo?

A princípio tudo era "feio" porque enfocava o sexo puro e simples e muitos países até então mantinham uma postura extremamente conservadora sobre essa nova forma de arte (acabando por esquecer que muitas das obras renascentistas evocavam não só o nu, mas o erotismo como forma de arte) e pensava-se que também não seria bom para a população absorver esse tipo de material e chegando-se ao cúmulo de, em países como a liberal Dinamarca de hoje proibir toda e qualquer forma de erotismo e pornografia, seja ela em quadros, desenhos ou pinturas.

Ainda se via o erotismo nos quadrinhos como algo sujo e marginal.

Mas a revolução veio a cavalo nos traços de artistas como Milo Manara (nos anos 70) ou Guido Crepax (da mesma época) que revolucionaram os quadrinhos eróticos dando uma dimensão mais abrangente aos apreciadores de plantão.

Mas o verdadeiro golpe de misericórdia veio com o surgimento da revolucionária revista fundada por ícones dos quadrinhos como Moebius (Garagem Hermética) e Enki Bilal (Os Imortais) que transformaram o até então quadrinho erótico em subproduto da ficção científica, dando mais qualidade as histórias, agradando em cheio o público europeu.

A partir daí a imaginação dos roteiristas de quadrinhos eróticos na atualidade se expandiu cada vez mais e o fetiche adquiriu o status que alcançou hoje, sendo o Japão o maior exemplo de como o erotismo pode movimentar milhões entre seus leitores.

Mas o que diferencia o Japão do resto do mundo? Além do estilo, as histórias lá não tem normas rígidas de censura, só as tarjas que eram obrigatórias (mas que não são mais obrigatórias pela lei, mas ainda se conserva devido a tradição já absorvida para a imaginação dos desenhistas) e um grande divisor de águas foi o surgimento de revistas como Candy Time Kaisokuban, que evocavam topo tipo de fetiche, desde a já conhecida tara por colegiais até o sadomasoquismo hardcore.

Mas o que faz alguém gostar de certos tipos de fetiches? Nada mais do que imaginação em fazer algo proibido (somente imaginação lembremos sempre) e lendo esse tipo de história sente seu desejo saciado.

Há muitos que defendem que isso denigre a mente das pessoas, mas há outros que concordam em dizer que tudo é besteira, gostar de histórias eróticas não torna ninguém doente ou esquisito, apenas com outro tipo de gosto.

Tanto é verdade que analisando o que é publicado lá fora, somos o país com as histórias mais românticas em termos de erotismo e sempre enfocamos o lado mais puro do sexo (pelo menos na maioria das histórias) enquanto outros países gostam do sexo pelo sexo. Para finalizar, gostaríamos de agradecer a alguns produtores de filmes eróticos brasileiros por introduzirem o uso da camisinha nos filmes e em tempos de Aids isso é uma importante mensagem a se passar por um povo que precisa não de sofrimento, mas de verdadeira informação.

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