quarta-feira, novembro 26, 2008

ler é coisa de gente chata(2)

Vamos ser francos, dizer que esta imposição do português ser vago, de se valorizar uma linguagem afastada dos fatos e maquiada pelas formas é no mínimo irracional. A única utilidade disso é realmente pra diversão de uma minoria. Eu mesmo já gostei desse tipo de texto, exatamente por servir como passatempo no nível de palavras cruzadas.
Evoluí estudando outras línguas. Eu gostava de aprender japonês decifrando os ideogramas como um arqueólogo, mas dizer que sou mais impor que os outros deveriam fazer o mesmo é absurdo.
Nosso querido Monteiro Lobato já fazia isso em sua época, quem leu seus textos já percebeu suas alfinetas em favor da simplicidade e do coloquialismo. Principalmente em Emília no País da Gramática aonde já começa criticando os que “escrevem como no século 16 por esporte”.
Essa lamentável ditadura de estilo começou no período colonial do Brasil, quando o trabalho era responsabilidade da mão-de-obra escrava, e a classe letrada era uma elite que dedicava muito tempo lapidando textos que valorizavam a estética e o subjetivismo.
Monteiro Lobato combateu arduamente essa mentalidade elitista. Defendeu a alfabetização em massa e promoveu grandes avanços em nosso país. Qualquer um pode ser lembrar do célebre Jeca Tatu que serviu como símbolo da educação. Ele pregou que um bom texto está na substância, na simplicidade, na clareza, na riqueza de detalhes e na integridade lógica.
Assim como se prega em todo o mundo.
Esses conceitos retrógradas voltaram, quando artistas e jornalistas tinham que informar mas tinham receio de se comprometer. A "liberdade vigiada" daqueles anos de regime de exceção exigia um subterfúgio, uma linguagem não-explícita, cuja mensagem ficasse por conta da capacidade de imaginação do leitor.
Após a ditadura esses artistas e jornalistas subiram ao poder se tornando grandes formadores de opinião e ao contrário do que pregaram trouxeram ignorância e uma mentalidade antiintelectualista que jogou a Educação Brasileira num abismo descerebrado que a tornou uma das piores do mundo com o argumento de que são contra a Ditadura ou que querem doutrinar as pessoas para a esquerda política.
Sem falar que essa atitude bitolante de você tem que ler isso ou assado gerou a mentalidade de que ler é coisa de gente chata e metida a besta.
Eu lhe pergunto como uma mente sã vai dizer que um estilo de escrita usado como código secreto de guerra, serve para o dia a dia de uma população.
Sempre escuto que é muito fácil escrever se não vamos rebuscar o texto, pois eu digo que fácil é escrever um texto rebuscado e ficar choramingando que o público não tem capacidade de compreender.
Difícil é fazer um texto fácil de ser compreendido, que agrade o leitor o suficiente pra se fazer sucesso.
Eu comprovei o que Lobato dizia com essa pessoa que afirmava não gostar de ler. Pelo gosto dessa pessoa em filmes de fantasia lhe ofereci “Artemis Fowl o menino gênio do crime”. Claro que ninguém é besta de torcer o nariz para um livro infanto-juvenil na minha frente, pois eu o colocaria como a pessoa mais tacanha da face da Terra. Já disse que sou um Lobatiano e concordo com Monteiro lobato que “um país é formado por homens e livros”.
Harry Potter já mostrou que crianças de nove anos lêem livros com mais de 600 paginas se o conteúdo for interessante.
Ele comeu Ártemis Fowl em poucos dias, voltou querendo mais e eu já lhe passei os outros livros da série. Em seguida fui lhe passando outros livros divertidos e de fácil leitura. A série Crestomanci de Diana Wine Jones, Karas de Pedro Bandeira, Nárnia e Harry Potter. Terminei com a serie Fronteiras do Universo que considero a transição perfeita para temas mais tristes e adultos.
Logo meu amigo mergulhou de cabeça em Senhor dos Anéis, romances de Dan Brown, Stephen King e passou a ler o que ele chama de livros técnicos (não- ficção. ) Ficou viciado em ler e hoje em dia lê no mínimo três livros por semana. Qualquer lugar está lendo: Lê no computador, no ônibus, em filas, no banheiro e onde puder.
Continuei com essa campanha de leitura que logo foi abraçado por outros que também se tornaram ávidos leitores. Progressivamente passamos livros divertidos e agradáveis de se ler. Logo estão lendo os mais grossos e chatos livros só pela compulsão de ler.
Terminando, reencontrei meus colegas que ficaram espantados como essa pessoa que dizia não gostar de ler agora já havia lido mais do que eles, possuía uma capacidade de comunicação e conhecimento muito superior a deles.
Novamente perguntaram o que ele pensava sobre os renomados escritores Brasileiros, agora que gosta de ler livros grossos e com milhares de páginas.
Ele olhou e falou: - Pra mim escritor Brasileiro é tudo uma bosta. Só suporto Paulo Coelho e André Vianco.
Eu olhei e só pude falar. Ignorante ele não é. Esse é o gosto dele.


Ps.: acrescentando ao que ele escreveu, sou uma das pessoas que não suporta mais ouvir de Machado de Assis, respeito como pessoa , mas não gosto de sua obra. Pra mim texto rebuscado não era uma coisa boa nem naquela época, nem nunca e por isso que vejo a nova geração mais se viciando em "miguxês" de Internet, desaprendendo a escrever mesmo terminando o colegial e se encaminhando pra faculdade com uma incapacidade gritante de escrita. Com obras cheias de preciosismos só estamos criando pessoas desinteressadas por cultura e tudo que possa interessar as suas vidas, além de baladas e bebedeiras. Pra mim escritor tem que ter conteúdo e escrever somente pra ser celebridade por mostrar jovens se drogando, prostitutas falando de suas experiências não me interessam em nada, o que eu quero é me divertir quando leio um livro, não consultar um dicionário.

Ler é coisa de gente chata (parte1)




Um texto enviado por um amigo meu, Ithamar Paraguassu, acerca das inconstâncias que os ditos "escritores" nos fazem sofrer e na minha visão, leitura não é tortura:

A pessoa (Não vamos citar nomes) chega e diz: Ler é coisa de gente chata e metida. Não gosto de ler, tenho preguiça e acho Machado de Assis, José de Alencar uma droga. Chato e desinteressante.
Automaticamente uma voz se ergue com ar de sapiência e autoridade e diz: - È burro!
Eu, é claro critico essa afirmação totalmente arbitrária e sem critério.
Já alguém mais culto e preparado solta a explicação para o caso:
Existem vários níveis de leitura.
Não sei em que você está o seu, mas, o fato de as escolas não acostumarem seus alunos a leituras mais sofisticadas não desqualifica as obras e sim as escolas.
Outra coisa que não pode passar em branco é o seu infeliz comentário de que Machado de Assis e José de Alencar são obras ruins. Não são eles que são ruins, você que ainda não chegou a este nível de leitura.
Eu já usei várias vezes esse argumento de nível de leitura, principalmente pra justificar porque a Juventude Brasileira não esta preparada para o tipo de leitura que lhes é empurrado. Em geral as crianças passam de uma literatura infanto-juvenil agradável como Pedro Bandeira e a Coleção-Vagalume que eu considero uma leitura nível 3 e já são empurradas para uma leitura nível 10 como um Eça de Queiroz que exige um esforço que não estão preparados. Mas o principal fator que faz com que um jovem abandone a leitura é a ditadura de estilo.
Eu fiz um rápido inquérito sobre sua capacidade de compreender textos e ele vez uma eloqüente critica sobre como O primo Basílio foi um livro chato com uma linguagem rançosa, empolada e artificial, descrições longas, monótonas e o enredo é típico de subtrama de novela.
Não tive outra reação além de aplaudi-lo para desagrado dos meus colegas.
O argumento de que é burro quem não gosta de determinado livro é inaceitável. Burro é quem fica repetindo frases feitas sem pensar no assunto.
Minha mãe é uma professora de primeira a quarta série. Uma educadora premiada, filha de um jornalista e casada com redator do Estado de São Paulo, filho de um repórter que foi respeitadíssimo em vida.
Ela que sempre foi a favor da idéia que ninguém é deficiente, só precisa de uma forma especial de ser instruída largou o tal “é burro” sobre quem não lê textos rebuscados. Ela própria se espantou como essa reação foi condicionada. Uma pessoa que não é capaz de interpretar um texto é ignorante e isso nunca pode ser visto como defeito, mas sim como um infortúnio da pessoa.
A pessoa de quem estou falando era completamente capaz de interpretar um texto e procurar qualquer palavra que não conhecesse no dicionário.
Eu mesmo tenho que admitir que sempre torci o nariz pra Machado de Assis. Primeiro por pregarem que ele é um exemplo de se escrever mesmo tendo 100 anos. No primeiro mundo também se estuda escritores centenários, mas ninguém diz que se deve escrever como eles agora. Isso é um absurdo.
Segundo é o poder sócio-político que a Academia Brasileira de Letras tem. Demonstrando a ignorância e falta de critério do nosso país. Por mais respeitável que seja, não passa de um clube de escritores.
Para qualquer um que fique horrorizado ao saber que a Academia de Letras é um clube, saiba que a Bolsa de valores também é um clube de acionistas. E o pior é que a ABL é um clube sem fins lucrativos.
Para terminar o que mais me incomoda em Machado de Assis é que ele próprio criou a Academia Brasileira e se auto-intitulou imortal. Isso pra mim é mais do que suficiente pra perder muito do critério. Perder critério na Academia, e no Machado como escritor, mas aumentar meu respeito nele como realizador.
Continuando com meu conhecido que dizia que não gostava de ler, mas sabia ler muito bem.
Então eu concluí que ele não gosta de ler porque nunca leu nada que interessasse. Essa pessoa lia muitas historias em quadrinhos o que quer dizer que ler, lia. Só não lia livros.
Ler é como ouvir musicas ou assistir filmes, se for obrigado a um gênero que gosta vai dizer que não gosta de ouvir musica ou que não gosta de assistir filmes. E é exatamente o que fazemos em relação a nossa língua.
A postura Brasileira em relação a gramática e a leitura é assustadoramente anti-intelectual.
Eu como bom Lobatiano, acredito que não é você que não gosta de ler e sim que você ainda não leu o que gosta.
Já na década de 30 Monteiro Lobato defendia que nossa língua tivesse uma grafia fonética, simplificada, à de tradição etimológica e seguisse as regras de redação universais.
Frases longas, adjetivação excessiva, tom vago, textos que exigem maior esforço para serem compreendidos, falta de concisão, todas estas características facilmente são consideradas pobreza de estilo em praticamente todas as línguas. Inclusive em português de Portugal. Alias o tal papo de que português é burro surgiu pelo fato deles não “interpretarem” o texto, considerassem elipse recurso a ser evitado enquanto aceitarem e recomendarem redundâncias.