quarta-feira, novembro 26, 2008

Ler é coisa de gente chata (parte1)




Um texto enviado por um amigo meu, Ithamar Paraguassu, acerca das inconstâncias que os ditos "escritores" nos fazem sofrer e na minha visão, leitura não é tortura:

A pessoa (Não vamos citar nomes) chega e diz: Ler é coisa de gente chata e metida. Não gosto de ler, tenho preguiça e acho Machado de Assis, José de Alencar uma droga. Chato e desinteressante.
Automaticamente uma voz se ergue com ar de sapiência e autoridade e diz: - È burro!
Eu, é claro critico essa afirmação totalmente arbitrária e sem critério.
Já alguém mais culto e preparado solta a explicação para o caso:
Existem vários níveis de leitura.
Não sei em que você está o seu, mas, o fato de as escolas não acostumarem seus alunos a leituras mais sofisticadas não desqualifica as obras e sim as escolas.
Outra coisa que não pode passar em branco é o seu infeliz comentário de que Machado de Assis e José de Alencar são obras ruins. Não são eles que são ruins, você que ainda não chegou a este nível de leitura.
Eu já usei várias vezes esse argumento de nível de leitura, principalmente pra justificar porque a Juventude Brasileira não esta preparada para o tipo de leitura que lhes é empurrado. Em geral as crianças passam de uma literatura infanto-juvenil agradável como Pedro Bandeira e a Coleção-Vagalume que eu considero uma leitura nível 3 e já são empurradas para uma leitura nível 10 como um Eça de Queiroz que exige um esforço que não estão preparados. Mas o principal fator que faz com que um jovem abandone a leitura é a ditadura de estilo.
Eu fiz um rápido inquérito sobre sua capacidade de compreender textos e ele vez uma eloqüente critica sobre como O primo Basílio foi um livro chato com uma linguagem rançosa, empolada e artificial, descrições longas, monótonas e o enredo é típico de subtrama de novela.
Não tive outra reação além de aplaudi-lo para desagrado dos meus colegas.
O argumento de que é burro quem não gosta de determinado livro é inaceitável. Burro é quem fica repetindo frases feitas sem pensar no assunto.
Minha mãe é uma professora de primeira a quarta série. Uma educadora premiada, filha de um jornalista e casada com redator do Estado de São Paulo, filho de um repórter que foi respeitadíssimo em vida.
Ela que sempre foi a favor da idéia que ninguém é deficiente, só precisa de uma forma especial de ser instruída largou o tal “é burro” sobre quem não lê textos rebuscados. Ela própria se espantou como essa reação foi condicionada. Uma pessoa que não é capaz de interpretar um texto é ignorante e isso nunca pode ser visto como defeito, mas sim como um infortúnio da pessoa.
A pessoa de quem estou falando era completamente capaz de interpretar um texto e procurar qualquer palavra que não conhecesse no dicionário.
Eu mesmo tenho que admitir que sempre torci o nariz pra Machado de Assis. Primeiro por pregarem que ele é um exemplo de se escrever mesmo tendo 100 anos. No primeiro mundo também se estuda escritores centenários, mas ninguém diz que se deve escrever como eles agora. Isso é um absurdo.
Segundo é o poder sócio-político que a Academia Brasileira de Letras tem. Demonstrando a ignorância e falta de critério do nosso país. Por mais respeitável que seja, não passa de um clube de escritores.
Para qualquer um que fique horrorizado ao saber que a Academia de Letras é um clube, saiba que a Bolsa de valores também é um clube de acionistas. E o pior é que a ABL é um clube sem fins lucrativos.
Para terminar o que mais me incomoda em Machado de Assis é que ele próprio criou a Academia Brasileira e se auto-intitulou imortal. Isso pra mim é mais do que suficiente pra perder muito do critério. Perder critério na Academia, e no Machado como escritor, mas aumentar meu respeito nele como realizador.
Continuando com meu conhecido que dizia que não gostava de ler, mas sabia ler muito bem.
Então eu concluí que ele não gosta de ler porque nunca leu nada que interessasse. Essa pessoa lia muitas historias em quadrinhos o que quer dizer que ler, lia. Só não lia livros.
Ler é como ouvir musicas ou assistir filmes, se for obrigado a um gênero que gosta vai dizer que não gosta de ouvir musica ou que não gosta de assistir filmes. E é exatamente o que fazemos em relação a nossa língua.
A postura Brasileira em relação a gramática e a leitura é assustadoramente anti-intelectual.
Eu como bom Lobatiano, acredito que não é você que não gosta de ler e sim que você ainda não leu o que gosta.
Já na década de 30 Monteiro Lobato defendia que nossa língua tivesse uma grafia fonética, simplificada, à de tradição etimológica e seguisse as regras de redação universais.
Frases longas, adjetivação excessiva, tom vago, textos que exigem maior esforço para serem compreendidos, falta de concisão, todas estas características facilmente são consideradas pobreza de estilo em praticamente todas as línguas. Inclusive em português de Portugal. Alias o tal papo de que português é burro surgiu pelo fato deles não “interpretarem” o texto, considerassem elipse recurso a ser evitado enquanto aceitarem e recomendarem redundâncias.

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