Aqui vai o segundo dos tres contos que estou a escrever sobre as obsessões humanas e suas conseqüências.
Divirtam-se.
O Ídolo
Ângela não tinha muitas ambições na vida, nada que uma jovem do subúrbio da cidade não quisesse, além de uma vida melhor para si, pelo fato de já morar sozinha há dois anos e nem ter amigos para conversar. Se bem que ela não ajudava muito, pois era de poucas palavras e todos a achavam muita estranha por ser tão fanática por músicas que evocassem o revanchismo e a morte por bandas que tinham a fama de matar bodes em shows e convidar as fãs para se despirem e se banharem no sangue do animal em pleno palco. Uma dessas bandas em particular era a mais violenta de todas, a Bleeding Noses in Pain, formada em sua maioria por doentes e maníacos homicidas que se apresentam com a escolta de policiais, não por oferecerem perigo, mas sim evitar que fãs mais exaltados cometam atos de mutilação em massa, como um velho senhor que cortou a própria face com uma faca afiada escrevendo o nome da banda em letras sangrentas em seu rosto para homenagear a soltura por bom comportamento de Biliz, o vocalista da banda que de longe é o mais comportado que todos que se meteu em uma briga e esfaqueou um desafeto, que no final disse que era uma honra ter uma cicatriz no ombro, pois era um fã da banda, bom tem louco pra tudo...
Ângela sempre quis conhecer Biliz, não por um autógrafo, mas sua obsessão maior era ser assassinada por ele e não satisfeita desejava em seu íntimo que ele usasse sua cabeça como um troféu na sala de estar da banda.Sem contar que seu sonho recorrente era ser estuprada por todos os membros ao mesmo tempo em que seu corpo era riscado por afiados bisturis e toda a ação era filmada. Seus desejos eram particulares e era não revelava a ninguém sua estranha e odiosa obsessão a sufocava mais e mais sem poder satisfazer-se. Via filmes de sadomasoquismo com os mais altos requintes de crueldade, mas desenvolvera uma resistência tão alta a tais filmes que bondage, coprofagia, urolagnia e outras aberrações nem a espantavam mais. O mais estranho de tudo isso era que tivera experiências sexuais fugazes e sem muitas novidades, que se atinham apenas ao velho “papai e mamãe”, tudo era sem graça para ela.
E apesar de corajosa para imaginar, tinha medo de satisfazer suas fantasias. Teve uma vez que pedira para um estranho lhe amarrar nua e lhe espancar. Arrependeu-se na hora. O estranho lhe bateu tanto que lhe quebrou duas clavículas, o braço e as duas pernas. Quase fora morta quando o facínora lhe apontou uma arma para sua cabeça e apertou. Estava brincando de roleta russa com duas balas na agulha. Fora salva a tempo quando um vizinho chamou a polícia e matou o estranho quando ele apertara o gatilho pela quarta vez consecutiva.
Algo bom ocorreu disso tudo, enquanto se recuperava, recebia a visita de Hans, seu vizinho e psiquiatra renomado que não entendia porque tanta misantropia da parte de Ângela.
O velho psiquiatra não compreendia como uma moça de 21 anos, bonita, que se veste bem tem uma vida tão solitária e infeliz. Perguntara porque ela agia assim e ela respondia que não sabia, pois fora criada com todos os mimos que uma família possa dar e nunca nada lhe faltou. A partir daí sentia-se vazia e sem rumo na vida e nem entendia sua angústia interior. Sentia-se bem imaginando coisas macabras e ver gente sofrendo lhe dava prazer. Lembra-se que quando era mais nova se masturbava vendo filmes de terror e gozava quando alguém morria de forma cruel.
Seus sonhos de terror se tornaram mais macabros depois de sofrer toda essa violência e lembrar do sangue do estranho banhando seu corpo lhe dava um enorme êxtase.
Com o tempo, Ângela começou a se consultar com o Dr. Hans e lhe confessou todos seus sonhos e a contradição de ter medo de suas fantasias, desejando que elas não prejudiquem outros ou até a ela mesmo. O Dr. Hans nunca tinha tratado de tamanho caso de automutilação mental e via que por dentro a mente de sua paciência desenvolvia uma perigosa psicopatia.
Ângela estava começando a ser um perigo para si mesma pelo fato de ter impulsos suicidas para satisfazer seus desejos mórbidos ao mesmo tempo em que tinha medo de ceder a esses impulsos. Prescrevera que precisavam interna-la o mais urgente possível.
Biliz via que a carreira de roqueiro não era o que desejava. Gostava de outros tipos de coisas e cantar sobre como descontar sua raiva nos outros lhe dava dores de cabeça constantes. Não concebia a idéia que tudo deva ser resolvido á bala e nas vezes que perdera a cabeça foi que se vira numa situação sem controle e tinha que se defender. Detestava brigar, apesar de ser faixa preta em muitas modalidades de luta e ninguém acredita que aquele homem de 1,90m, 112 quilos, cabeludo e com roupas de couro gosta de visitar doentes em hospitais, dar presentes em asilos e cantar coisas positivas para se sentirem bem. Via que a imagem que fizera para si e para os membros da banda era só marketing para adolescentes que idolatram o que não presta. Tem um casal de filhos e nem deixa que eles escutem a música que faz, preferindo que escutem música clássica ou qualquer outra coisa que não polua o cérebro, segundo ele.
Outras coisas estranhas que começou a receber por carta foram as fotos de uma moça morena de cabelos castanhos claros, olhos verdes e muito bonita sempre nua em cemitérios, necrotérios, abatedouros e nesse último em particular ao lado de um boi esquartejado.Deitado ao seu lado, no chão coberto de sangue ela estava em cima da mesa com a cabeça do boi no meio de suas pernas e molhada de sangue e com uma expressão de êxtase no olhar que olhava fixamente para o fotógrafo. Seu sangue gelou na hora. Quem tinha mente tão doentia?
Em carta anexa, também escrita com sangue, a tal moça dizia que ia se matar se jogando em uma máquina de fazer feno e ia mandar a fita para ele sonhar com ela. Assinado: Ângela.
Biliz já recebera outras dessas cartas, mas a cada foto a obsessão da moca aumenta cada vez mais e sua sanha em querer agradar seu ídolo não parecer ter fim e não queria ser culpado pelo fim de quem ultrapassou todos os limites de humanidade por ter levado á sério seu trabalho como cantor. Jurava que se ela morressse por sua causa, nunca mais cantaria e iria se mudar daquele ambiente doentio que se tornara a cidade onde vivia, pois seus filhos não podiam ser educados em ambiente tão cruel e nojento. Quando recebera a nova foto, chorou como nunca. A moça pediu para ser crucificada e seu nome fora riscado a ferro quente em seu peito. Parecia morta. Naquele momento, pegou todas as fotos de sua fã e todas as cartas (que ao todo chegavam a mais de duzentas) e fez uma imensa fogueira. A partir daquele momento, Biliz não quis mais saber de Ângela e seu fanatismo por sua banda. Toda vez que recebia uma carta de Ângela pedia para devolver ao remetente, e assim foi por dois meses.
Repentinamente parou de receber correspondências de Ângela.
Ficara aliviado, a obsessão dela por ele passou, pensara.
Estava mais do que enganado.
Durante uma madrugada recebera uma série de ligações dizendo que ele traiu a confiança de um fã e por isso ia morrer. Mas antes disso, seu casal de filhos será torturado, seviciado e morto com requintes de crueldade. Não precisava nem ser gênio para advinhar quem o ameaçava ferozmente, era sua “amiga” Ângela. Mas desta vez não se intimidou e no último telefonema respondeu que se ligar de novo ele a mataria. Silêncio e algum tempo depois ouvira um gemido de prazer do outro lado da linha. Nesse momento sentia que tinha que fazer algo.
Pediu para rastrear a ligação e descobrira que vinha de um hospital psiquiátrico. Tinha que pôr um fim nesse pesadelo.
***
Biliz fora impecável ao hospital, pois era a hora de conhecer sua maior fã, Ângela. Trouxera-lhe até flores e bombons, que em suas melodiosas cartas sempre pedia para lhe trazer, pois a vida no hospital era chata e monótona. O ídolo sorria, pois ninguém sabia mais de sua trajetória do que a doce Ângela. Deveria ser alguém especial para lhe amar tanto, pensava.
Estranhava o fato dela demorar tanto e as fotos que lhe enviara sempre a mostravam alegre e sorridente nos campos de flores no hospital. Pena que não tinha tempo para visitá-la, mas agendara um tempo, pois não podia menosprezar sua fã.
Repentinamente se encontra com o psiquiatra de Ângela, Dr. Hans.
Ele tentava disfarçar o choro. Perguntava o motivo de tanta tristeza.
Hans lhe explica que na noite anterior ela contara que Biliz ligara para ela dizendo que ele ia matá-la por mandar fotos obscenas para ele e que já estava cansado de receber tantas provas de devoção depravada a sua pessoa. Desconsolada, escreveu uma carta relatando o ocorrido, se encheu de remédios e cortou os pulsos. Acabara de falecer há quarenta minutos.
Biliz não entendia onde ela tirou essas idéias absurdas, pois nunca recebera fotos obscenas de Ângela. A mais provocante de todas elas estava de biquíni na praia. Onde estava a depravação nisso?
O Dr. Hans confessa que Ângela sofria de problemas psiquiátricos graves e seu estado se deteriorava a cada dia. Um deles eram os delírios de ver o contrário do que era a realidade e parecia que, aparentemente, ela estava melhorando por escrever para seu ídolo. Ledo engano. Ela via coisas que não existiam e dessa vez mergulhou fundo demais nas próprias fantasias. Mas tudo que fora possível fora feito, mas já era tarde demais.
Biliz pede para pelo menos ver seu corpo.
No necrotério, vê o corpo nu com os pulsos cortados e se aproxima. Dá um beijo em sua testa e pega as flores e bombons e envolve os braços de Ângela neles. Vira-se para ir embora e olha novamente e sorri. Percebe que naquele momento de dor e tristeza um pequeno sorriso se estampava em seu rosto pálido. Cobre-lhe o corpo, reza por sua alma e sai dali com a certeza que mudara sua cabeça, os jovens angustiados precisam de amor e compreensão e não mergulhar nas fantasias que eles próprios criaram que ás vezes pode lhes levar ao fim.
Naquele dia, a Bleeding Noses in Pain decretou seu fim.
2 comentários:
No se, llamadme pervertido si quereis, pero ESTE es el mejor video que he visto...
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