Aqui esta o meu terceiro conto pra vocês avaliarem. Espero recber críticas e o mais importante, temas pra abordar sobre a maldade humana. Conto com vocês!
Sua profissão exigia um esforço físico tremendo, pois não sabia o que fazer quando estava em um palco divertindo velhos, adultos e crianças. O que fazia lhe trazia a maior angústia, pois se sentia mal por passar uma imagem que não correspondia à própria, que era de aflição e tristeza. Colocar aquela roupa larga parecia vestir a roupa de um condenado á morte tamanha a angústia que sentia. Tinha que se sustentar e aquele trabalho parecia honesto e rendia bastante. Porque não ser feliz ganhando bem? Faltava-lhe a confiança para dizer que não gostaria mais de ser submetido a aquela pressão. Muitos não sabiam seu nome, mas o chamavam de Verdinho. Verdinho era um palhaço que como nunca se viu na Terra, pois arrancava risos das mais sisudas e carrancudas caras. Não havia ninguém que pudesse resistir ao seu encanto natural para a comédia. Ele era exímio nisso. Mas ninguém sabia que ele padecia de um pavor doentio de se apresentar como palhaço. Não sabia porque, mas sempre teve medo de palhaços. Além dessa profissão, é um ator de talento inigualável e gosta em especial de tragédias gregas e dramas. Nesse momento se sente feliz. Mas estava velho e ninguém queria atuar com ele devido ao seu extremo perfeccionismo em cena, chegando a incorporar os personagens que interpretava, sendo sua atuação como o Fantasma da Ópera uma das mais aplaudidas por seu semblante sinistro ao colocar toda a angústia de um homem que ficara deformado e não tivera seu amor correspondido. Recebeu prêmios por suas atuações dramáticas, mas isso era passado e hoje ele se tornara o que mais temia, um palhaço.
O picadeiro lotado, os acrobatas, as belas e seminuas partners de mágicos, os engolidores de fogo os domadores...
Tudo lhe agradava e queria muito ser mágico quando moleque, mas o destino o confrontou com seu maior medo, os minimalísticos e pantomímicos palhaços. Em cena era apenas Verdinho, o palhaço que todos amavam, mas quando as luzes se apagavam, era apenas ele o velho homem que tinha medo de sua profissão. Queria ser qualquer coisa, até trabalhar com explosivos, mas o destino quis que ele se tornasse um palhaço. O que lhe fazia continuar era o ar feliz que passava, pois traumas eram momentaneamente esquecidas, dores deixadas de lado, amores se reencontravam. Ele se sentia um verdadeiro anjo da guarda.
Como sempre fazia, dava uma volta pelo parque aproveitando as poucas folgas que dispunha. Algo lhe chamou a atenção. Uma menina triste e com um lenço na cabeça olhava sem rumo para o chão sentada um banco de praça. Sua pele era pálida e sem vida, suas mãos finas e delicadas. Parecia muito nova, mas já tinha 19 anos. Era bonita, mas sentia uma dor enorme dentro de si que não acabava. Era órfã, cuidada por uma tia inescrupulosa que não via a hora de se livrar dela. A moça frágil estava se recuperando de um câncer através de um transplante de medula. Dera certo, mas a angústia que a corroía, não era pela doença, mas pelo abandono e preconceito que as pessoas a olhavam. Verdinho se aproximara e ela lhe contara tudo, até do casamento que perdera, pois seu noivo não queria ter um filho que desenvolvesse câncer. Além do fato dele ser tarado por mulheres doentes e querer sexo a qualquer hora. Dizia que lhe excitava transar com alguém que parecia um zumbi e sempre que ela cedia, pedia para não mover um músculo enquanto ele fazia o que queria com ela. Revoltante até para os mais pacientes dos mortais, pensava Verdinho, um viúvo que ainda ama a mulher e adora os netos, sua razão de viver. Ver aquela pessoa que perdera parte de seu respeito e saúde lhe fez repensar vários conceitos. Mas seu medo ainda era forte.
Beijou a moça e foi embora. Nunca mais a viu.
No dia seguinte foi ao seu trabalho e executou como sempre primorosamente sua tarefa. Foi ao seu camarim se arrumar. Errara naquele dia o local onde tirava a maquiagem e pela primeira vez em muitos anos olhara para seu rosto maquiado como palhaço. Gelou na hora, pois seu camarim não tinha espelhos e sempre pedia para alguém lhe fazer a maquiagem.
Olhou para aquela feição de felicidade estampada falsamente em seu rosto e não conseguiu falar. Paralisou. Ficou catatônico. Estático. Sem reação.
Queria fugir, mas sua vontade lhe fugia. Estava sozinho e sem ninguém para ajudá-lo.
Ficou assim durante três horas. Até o momento em que se lembrou da moça com o lenço na cabeça.
Uma euforia o dominou por completo e ele finalmente tirou a maquiagem e foi para casa.
Algumas semanas depois, era outra pessoa, mais feliz e menos melancólica. Lembrou que medos podem ser superados, mas traumas são difíceis de lidar. Esperança era algo que deveria ter, pois era um agente do bem. Encontrou a moça novamente, só que com mais cabelos e sem o lenço. Estava curada e longe de sua tia, morando com amigas que nunca lhe deixaram na mão nas horas mais difíceis. Conhecera uma delas e se tornaram grandes amigos. A moça se chamava Luzia e sua amiga Laís, ele queria ser apenas chamado de Verdinho. A partir daquele momento soubera que nada deve nos abater se temos um dom que alivia o sofrimento de outros e com esse pensamento os três foram naquele dia quente, tomar um delicioso sorvete.