Pode parecer engraçado, mas esse artista que adotou o pseudônimo de Kiraji começou a se interessar por esse negócio de mangá e anime depois que se tornou um fã ardoroso de Ranma ½ . O que é mais bizarro é que apesar de amar essa obra da grande Rumiko Takahashi detesto escrever histórias com cunho romântico preferindo coisas mais macabras para me inspirar como histórias de vampiros, lobisomens e afins.
Mas brincadeiras á parte quero apenas demonstrar nesse post o amor que tenho por essa obra em particular, pois pelo que sei é o único caso que eu conheço (me citando como exemplo) de alguém que se sentiu mais inspirado a fazer histórias diferentes das que gosta (se bem que adoro terror e romances deixo para escritores de Sabrina ou Bianca escreverem) como fã e que praticamente se curou de uma grave depressão que sofria.
Sou fã de Ranma ½ há mais de dez anos, antes mesmo de muita gente conhecer e quando comecei a acompanhar essa história estava passando por um período turbulento da minha vida, tinha perdido o emprego, meus familiares me azucrinavam dizendo que não queria nada da vida e para piorar a situação não tinha um vintém para o ônibus indo muitas vezes para uma Gibiteca no final de semana praticamente a pé, tanto na ida quanto na vinda. Estava interessado por quadrinhos e sempre lia de tudo para me aperfeiçoar e treinava bastante (meu traço na época não era lá essas coisas, reconheço) e sempre era desestimulado por muitas pessoas. Conhecia pessoas que tentavam me animar, mas sempre estava para baixo.Sempre escrevia várias histórias e tinha medo de mostrar elas por medo de rejeição,sem contar as paixonites que ocorrem com pessoas normais, após alguns meses freqüentando a Gibiteca notei alguns mangás que lá tinham e comecei a folhear, foi nesse momento que vi Ranma, mas não me interessei, pois não era uma história que algo acontecia e deixei de lado. Lendo uma revista chamada Japan Fury vi a figura de uma bela ruiva com rabo de cavalo e vestindo roupas chinesas com o título de Ranma ½. Comprei e comecei a ler, para meu espanto era falando sobre a história que nem tido dado bola (e da minha relação da história acho engraçado gostar mais do outro lado de um personagem transformado do que dele em si e no caso é a Ranma-chan, mesmo sabendo que ela o Ranma homem são a mesma pessoa, sendo que ele eu odeio com todas as minhas forças) e comecei a ler tudo relacionado a esses personagens. Passei pelo que sei respirando Rumiko Takahashi 24 horas por dia durante três anos (como eu era chato nessa época, pois enchia o saco de todo mundo com o meu recém adquirido fanatismo) e tinha um ânimo pra fazer as coisas como nunca tinha tido antes. Me interessei em mostrar as minhas histórias pra todo mundo e ao contrário de outros fãs, que fazem fanfics de personagens, nunca me atrevi a fazer nada parecido, pois o que eu escrevia não deveria e nem deve ser cópia do que eu gostava, antes de tudo eu era um quadrinista que estava buscando um estilo de história próprio, não mais um clone de um autor conhecido, fora que eu tinha e tenho um respeito religioso por essa obra.
Treinei meu traço com afinco e conheci o desenhista que me influenciou no traço que tenho hoje, o grande mestre Hikaru Yuzuke, pois ele tinha tudo que eu gostava, um traço com a dinâmica japonesa com estilo cartoon e bem a cara dele. Após isso nasceu Bruno Kiraji, o meu alter ego que tenho uma dívida de honra pois esse meu lado me mostrou que por mais estranho bizarro sejam suas histórias sempre vai ter alguém que vai lê-las e é pra esse publico que você deve escrever. Recebo críticas por gostar tanto de escrever histórias sangrentas, mas há pessoas que também gostam disso, fora que se não fosse meu atrevimento em me mostrar para o mundo como autor por causa de algo que gostava quem sabe não estaria louco ou internado? Sim, desenhar para mim é uma terapia que me livra do stress e me dá uma certa satisfação, não tenho vergonha de admitir.
Confesso que uma única coisa Ranma me influenciou em construção de personagens, tenho como muleta sempre ter dois protagonistas na história, sempre fazia heróis solitários que resolviam tudo na porrada.Pelo personagem que engloba dois lados de sua personalidade (ele é meio esquizofrênico, pois como mulher faz tudo que como homem nem pensaria em fazer como ser mais alegre e até mais ousado, se bem que na sociedade japonesa homens com atitudes mais expansivas como a da Ranma-chan não são bem-vindos, pois para eles devem ser sérios todo o tempo e ele quebra essa regra tendo essa contraparte feminina que o “liberta” provisoriamente de obrigações como homem) e me mirei nesse exemplo, bem e mal, vida e morte, homem e mulher, tudo tem uma contraparte e por que não aplicar em uma história elementos tão antagônicos? Ora todo mundo enxerga dualidade em tudo e colocar esse conflito é a minha chave para ter controle sobre minha obra.
Todo mundo precisa de alguém em que se apoiar moralmente e um casal protagonista sempre dão o tom dessa disputa.Quem leu os posts anteriores viu um enredo meu, Underdog, no qual Era é indestrutível e Smyrta é apenas a normal que está lá por forças do destino e a história gira em torno dessa relação, de um lado a toda poderosa acompanhada por alguém que não possui sequer força pra se defender.
Além do mais que graça teria a vida se a gente não falasse do que gostava? Para quem me lê não sou chato, só crítico. E sempre dou minha cara a tapa pra bater, pois quem cria também deve ser avaliado e esse sempre foi meu objetivo quando criei esse blog.
E lembre-se: se um autor de ficção e terror poder ser fã e Ranma por que não procuramos nosso caminho para melhorar, encontrei o meu, só basta chegar ao final.