terça-feira, abril 19, 2005

O valor do fetiche na HQ

O mais moralista dos mortais pelo menos uma vez na vida teve algum desejo que gostaria que fosse realizado e aquele que diz que não tem esse tipo de pensamento ou não se interessa por sexo por algum tipo de criação repressora ou está falando a mais deslavada mentira.

Com certeza que a maioria das pessoas acha que os ditos “quadrinhos adultos” não passam de diversão de tarados que não tem o que fazer senão se excitar com sacanagem suja (na visão de uma boa parte de pessoas) e histórias que não passam nada além da promiscuidade que rege a vida dos depravados.

Isso é meia verdade, pois quem tem um pouco de juízo sabe que o que acontece em uma história erótica nada mais é do que uma mera fantasia que serve para distrair durante alguns momentos um leitor que teve um dia cheio e precisa esfriar a cabeça um pouco (se bem que esfriar a cabeça não é a idéia principal).

Para ser o que é hoje, os quadrinhos eróticos em todos os países do mundo tiveram que passar por duras provas até provar que não representam perigo para a sociedade.

Estranhamente não se começou um culto ao erotismo por causa dos quadrinhos, mas sim pelo cinema que dava para seus expectadores exemplos de beleza inatingível. Por exemplo, nos E.U.A isso representou durante muito tempo uma regra durante os anos 30 até meados dos anos 60.

Lógico que a moral da época impedia que as mulheres se expusessem como hoje (há quem diga que era melhor naquela época, pois apenas se imaginava como seria tal mulher sem roupa), mas o glamour da época não estava em vê-las nuas, mas interpretando na tela papéis que variavam entre a mocinha ingênua à garota má. Algumas atrizes que destacamos deste período, as quais arrasavam corações são musas como Bette Davis, Laureen Bacaal entre outras.

A animação estava experimentando novos rumos e chegava-se a resultados surpreendentes. Aí veio a personagem que iria abalar as estruturas: Betty Boop.

Com seu jeito ingênuo de ser e suas formas curvilíneas deixou muitos de cabelo em pé. Para acabar com os cardíacos de plantão sempre estava paramentada por vestidos tão curto quanto uma garota da atualidade.

Betty Boop, erótica? Mas ela não era um personagem de desenho animado? Sim, mas começou a incomodar as pessoas pelo jeito simples de ser e além do mais era um mau exemplos para os pequeninos e muitos não a viam como personagem animado, mas como uma mera dançarina de cabaré ( e pensar que ela hoje não é mais erótica do qualquer personagem da Disney).

Mas o erotismo acabou por aí, certo?

Lógico que não, com o surgimento de Betty Boop ( e de muitas antes ou depois dela) houve uma febre por histórias mais picantes, cheias de fetiches, com botas de couro e outros acessórios sadomasoquistas.

Era o começo da fase marginal dos quadrinhos eróticos.

Feministas de plantão ficaram carecas de tanto arrancar os cabelos por verem o que acontecia com as mulheres que eram vítimas desses "tarados" sem alma. Com o surgimento da Segunda Guerra Mundial, o erotismo vendeu mais que pão quente.

Para animar as tropas no Front surgiram as tão famosas Pin Ups que nada mais eram do que modelos que posavam nuas ou seminuas e cujas fotografias eram feitos pôsters que ficavam nos quartéis dos soldados. A mensagem que passavam era:

"Lutem pelo seu pais que poderemos sempre ter mulheres maravilhosas como essas".

Com certeza que no Japão as histórias eróticas estavam começando a despontar, mas ainda sofriam uma séria influência da Europa em sua forma, traço e conteúdo. Mas quanto a própria Europa, como as coisas estavam indo?

A princípio tudo era "feio" porque enfocava o sexo puro e simples e muitos países até então mantinham uma postura extremamente conservadora sobre essa nova forma de arte (acabando por esquecer que muitas das obras renascentistas evocavam não só o nu, mas o erotismo como forma de arte) e pensava-se que também não seria bom para a população absorver esse tipo de material e chegando-se ao cúmulo de, em países como a liberal Dinamarca de hoje proibir toda e qualquer forma de erotismo e pornografia, seja ela em quadros, desenhos ou pinturas.

Ainda se via o erotismo nos quadrinhos como algo sujo e marginal.

Mas a revolução veio a cavalo nos traços de artistas como Milo Manara (nos anos 70) ou Guido Crepax (da mesma época) que revolucionaram os quadrinhos eróticos dando uma dimensão mais abrangente aos apreciadores de plantão.

Mas o verdadeiro golpe de misericórdia veio com o surgimento da revolucionária revista fundada por ícones dos quadrinhos como Moebius (Garagem Hermética) e Enki Bilal (Os Imortais) que transformaram o até então quadrinho erótico em subproduto da ficção científica, dando mais qualidade as histórias, agradando em cheio o público europeu.

A partir daí a imaginação dos roteiristas de quadrinhos eróticos na atualidade se expandiu cada vez mais e o fetiche adquiriu o status que alcançou hoje, sendo o Japão o maior exemplo de como o erotismo pode movimentar milhões entre seus leitores.

Mas o que diferencia o Japão do resto do mundo? Além do estilo, as histórias lá não tem normas rígidas de censura, só as tarjas que eram obrigatórias (mas que não são mais obrigatórias pela lei, mas ainda se conserva devido a tradição já absorvida para a imaginação dos desenhistas) e um grande divisor de águas foi o surgimento de revistas como Candy Time Kaisokuban, que evocavam topo tipo de fetiche, desde a já conhecida tara por colegiais até o sadomasoquismo hardcore.

Mas o que faz alguém gostar de certos tipos de fetiches? Nada mais do que imaginação em fazer algo proibido (somente imaginação lembremos sempre) e lendo esse tipo de história sente seu desejo saciado.

Há muitos que defendem que isso denigre a mente das pessoas, mas há outros que concordam em dizer que tudo é besteira, gostar de histórias eróticas não torna ninguém doente ou esquisito, apenas com outro tipo de gosto.

Tanto é verdade que analisando o que é publicado lá fora, somos o país com as histórias mais românticas em termos de erotismo e sempre enfocamos o lado mais puro do sexo (pelo menos na maioria das histórias) enquanto outros países gostam do sexo pelo sexo. Para finalizar, gostaríamos de agradecer a alguns produtores de filmes eróticos brasileiros por introduzirem o uso da camisinha nos filmes e em tempos de Aids isso é uma importante mensagem a se passar por um povo que precisa não de sofrimento, mas de verdadeira informação.

RPG, diversão saudável ou vício?

Houve no ano passado em São Paulo um evento que reuniu muitos fãs de RPG (Role Playing Game) e em outros encontros sempre há a pergunta: será que esses jogadores são normais e levam vidas comuns?

Hoje em dia é até leviano dizer que qualquer tipo de fã é maluco ou “bitolado” que não enxerga a realidade. Lógico que há uma minoria de pessoas que sofrem de distúrbios mentais e que a válvula de escape para sua vida é cultuar algo e viver para aquilo como se fosse uma religião, mas são poucos e sempre mostram que vivem para sua fantasia e para mais nada.

As pessoas normais apreciam uma forma de se divertirem por algum tempo para poder suportar as pressões da vida e com os Rpgistas não é diferente.

Quem os conhece sabe que entre eles não há uma gama de pessoas sem objetivos na vida além do jogo, mas sim pessoas formadas em advocacia, engenharia, medicina, etc. que gostam de fantasiar que são guerreiros, vampiros, magos ou qualquer outra coisa que os livros de RPG (ou até sua própria imaginação) possam produzir.

Historicamente, o RPG em si no Brasil começou de forma tímida há mais de quinze anos (ou até mais diriam alguns veteranos) que viram os livros de um certo Steve Jackson e suas regras para um jogo em que a imaginação dava as cartas, aí estavam as primeiras raízes do RPG.

Surgiram diversas revistas sobre o gênero na época, mas a que mais se destacou foi a Dragão Brasil que se diferenciou das outras pela abordagem diferenciada e pelos textos simples e que está aí até hoje.

Com o tempo a conhecida Devir começou a traduzir livros com mais temas, como vampiros, lobisomens e criaturas horrendas. Os jogadores assim encontraram um terreno fértil para mostrar que RPG não era só uma coisa de meia dúzia de gatos pingados para se tornar um filão bastante rico em intercambio.

Não podemos esquecer que os grandes divulgadores do RPG no Brasil atendem pelo nome de Marcelo Cassaro e Marcelo Del Debbio. Suas abordagens de mundos diferenciadas mostraram que os brasileiros não são apenas consumidores, mas também produtores de bons materiais, citando como exemplo o excelente resultado do Victory nos EUA.

Infelizmente, não há só bons exemplos a serem mostrados, como a alegação que RPG desvirtua as pessoas e as fazem cometer crimes, como um dos mais recentes cometidos contra uma jovem que foi morta e crucificada em um cemitério ou em outros crimes afora em que pessoas são sacrificadas supostamente por jogadores insanos.

Salienta-se que isso é apenas uma minoria que mancha a reputação de uma tribo que quer apenas se divertir não causar o mal a outras pessoas. Deve-se lembrar que quem quer cometer um crime usa qualquer tipo de desculpa para atenuar sua culpa e o que mais se assemelha ao seu pensamento acaba fazendo parte de algo que não tem nada a ver.

Portanto, se houver alguém que tem distúrbios graves e que não sabe diferenciar realidade de fantasia ou se conhecerem alguém assim digam apenas que procure ajuda médica e que não comece a jogar RPG.

quinta-feira, abril 14, 2005

Gothic lolitas vieram pra ficar

Para quem pensa que as tendências de hoje são apenas um reflexo do passado não estão enganados.

Nos últimos tempos algumas garotas começaram a se expressar de uma maneira única baseada nas antigas histórias de terror ou grupos de rock dito emocore (que muitos odeiam a tal ponto que quererem queimar todos os discos do Evanescence ou do Nightwish) se vestindo de uma forma que no Japão tomou um nome curioso: Gothic Lolita.

Curioso pelo fato de muitas garotas já terem passado da fase do colegial e dos romances típicos da adolescência (que não são tão importantes assim, pois o que vale hoje em dia é ter um trabalho decente e só aí pensar um pouco em romance) sem se importar muito com a opinião alheia.

O que chama a atenção nessa curiosa forma de se apresentar ao mundo é o jeito que elas se apresentam: bonitas, mas perigosas.

Sim, o que uma gothic lolita tem de bonita tem de perigosa.

Para quem tem acesso a fanfics (histórias que fãs inventam histórias baseadas em personagens já existentes) ou clubes de escritores da net percebe que todas as histórias envolvendo essas curiosas personagens nem sempre terminam de forma dita feliz.

Lógico que o lado obscuro da vida tem seu fascínio, mas muitas pessoas perguntam se tais garotas estão apenas seguindo moda ou são mais ofensivas, são um bando de particinhas sem personalidade.

Não cabe a ninguém julgar se as tais “noivas da noite” (sim, elas também se vestem de noivas com vestidos brancos ensangüentados) são apenas reflexo de uma pessoa tímida que se veste como perigosa para chamara a atenção e se elas gostam de se vestir assim, quem pode condenar?

A ascencão da tribo no Brasil

Nos últimos anos cresce cada vez mais esse tipo único de garota em eventos de mangá nos estados de São Paulo, sul e Rio de janeiro (eu, como Staff dos principais eventos de Sampa, tenho visto sempre essas novas góticas circularem tranqüilamente pelos corredores dos e ventos e atraindo muita curiosidade) que não é cosplay e nem está promovendo nenhum fanzine de sua autoria, as noivas da noite trazem algo novo, como o misterio e a fascinação por figuras histórias como as noivas do vampiro Drácula, os contos de Anne Rice ou até nosso representante brasileiro, André Vianco (se não leu nenhum deles, procure na biblioteca ou livraria mais próxima) além de darem um gosto especial para aquelas que representam seu personagem com a primazia de uma atriz de teatro.

Voltando ao começo do texto que dizia que as tendências de hoje são apenas o reflexo do passado, explica-se: há muitos anos atrás (especificamente, no séc. XIX) existia no mundo uma tendência de se adorar a mocinha frágil e indefesa, quase sempre representada como uma doente terminal ou uma tuberculosa (sim, a sociedade e os escritores achavam que a mulher para ser pura deveria ser indefesa e que maneira melhor de representá-la do que dessa maneira?) que necessitava de todos os cuidados para que não padecesse do seu mal. Assim, escritores aproveitavam esse filão para explorar esse ramo e atrair multidões para seus escritos. Escritores como Mary Schelley (a mesma que criou Frankestein e no final do livro o monstro quis uma companheira e advinhem quem foi escolhida, a falecida e frágil noiva do medico que ressuscitava mortos com pedaços de cadáveres e que voltou a vida, mas não agüentou ser um monstro)ou até como Bram Stoker, que em Drácula transformou a irmã de Mina ( a prometida do vampiro), uma garota frágil no mais horrendo monstro sugador de sangue.

Hoje em dia, percebe-se que a parte feminina do planeta busca uma forma de ser mais independente, mas sem perder a graça e a feminilidade, e por isso em pleno século XXI temos o fenômeno das Gothic Lolitas (ou noivas da noite, se preferirem) que nos agradam, nos atraem com sua beleza e seu mistério.

Assim sendo, lembre-se: por trás de uma criatura frágil sempre existe uma fera adormecida.

quarta-feira, abril 13, 2005

Ocidente X Oriente - o que tanto fascina?

Recentemente, nas primeiras semanas de 2004 a revista Veja produziu uma matéria intitulada "O Japão é Pop" dando ênfase a recente "orientalização" do Ocidente, destacando que sua influência não se estende somente nos animês ou mangás, mas incluindo aí a cultura de moda, na música e na filosofia religiosa.

Mas será que só o Japão influencia o mundo atualmente? Até um tempo atrás os EUA ditavam moda no mundo com sua cultura das comidas fast-food, cinema e a tão popular Coca-Cola, mas por causa do 11 de setembro (ou até uma desculpa, dizem até os mais exaltados antiamericanistas) as medidas de segurança do novo governo, de posição ultraconservadora, para os estudiosos fizeram a nação mais poderosa do mundo parecer um lugar tomado por pessoas que se preocupam demais com a segurança e se esquece de uma população que em sua maioria se compadece com as vítimas, mas vê as divisas do país serem usadas para criar uma imagem negativa da nação americana, não o contrário. Estes mesmos estudiosos prevêem que o desgaste será iminente com o fortalecimento de nações mais amistosas e de culturas mais antigas, daí a fascinação pelo Japão.

E continua a pergunta, será que é só o Japão que influencia o mundo atualmente?

Ao contrário do que se imagina, a terra do sol nascente também é influenciada por países como o Brasil em ramos como música e cultura, sendo que temos restaurantes que servem feijoada e até academias de capoeira por lá. Além disso, temos a influência em estilos como Bossa Nova e até o nosso conhecido Samba, para tanto têm-se, em terras nipônicas, escolas de samba orientais (e olha que elas dançam tão bem quanto as brasileiras).

Outra cultura que influencia muito o Japão é a germânica, devido a música clássica e por muitos japoneses gostarem do biotipo nórdico no que concerne a olhos e cabelos (note o quanto de loiras de olhos de azuis que há nos mangás).

Estendendo-se mais no antigo continente que até hoje influencia o mundo com cultura que vai desde as esculturas gregas até a música clássica, fascinam o mundo com suas histórias de guerreiros Vikings, os bretões e cruzados. Da parte deles, os europeus adoram o que os mangás oferecem e para quem não sabe foram os principais entusiastas da volta dos Cavaleiros do Zodíaco quando um pequeno de animadores italianos fez uma pequena introdução da saga de Hades que agradou em cheio os executivos japoneses e até o próprio criador da série, Massami Kurumada,percebendo até onde a insistência pode chegar, sendo o sucesso que é hoje. Além do mais há uma nova saga sendo produzida, Saint Seiya G, que conta uma nova história com um personagem que é um cavaleiro de ouro.

Atualmente, no Brasil convencionou-se dizer que há o surgimento de desenhistas de mangá, o que deve ser recebido com ressalvas, pois temos sim pessoas que gostam de mangá e podem até fazer algo no estilo e estudiosos no assunto. Devemos lembrar que mangá não é só um monte de cenas rápidas, mas um estudo aprofundado nas características dos personagens e sociedade. Além do mais, mangá não é um estilo alienígena, é só mais um estilo de quadrinização que pode enriquecer os estilos que já conhecemos, como os comics (sem esquecer que mangá é como é se chama quadrinhos no Japão e só faríamos mangá se fosse publicado lá). Mangá para muitos é uma onda passageira e uma moda. Mas uma pergunta pertinente: porque então há tantas publicações? Pelo simples fato de se diferenciarem das histórias que são comumente publicadas. Há dramas, comédias e o principal, personagens que envolvem os leitores e esse é o ponto que deveríamos aprender com os japoneses e assim criar histórias mais envolventes.

Assim, no final, quem influencia quem?

Ricardo Bomfim é professor de roteiro e quadrinista. Interessa-se pelo fato dos quadrinhos serem um meio de ensino mais viável e de se acabar com a idéia que não são uma boa leitora. Alguém já leu Mulheres Alteradas?

O que novelas e mangás têm em comum?

Hoje em dia nota-se que a cultura em geral está sofrendo de um grande retrocesso, seja nos filmes ou até em outras mídias, sejam elas escritas ou eletrônicas.

O que os mangás têm a ver com isso? Tudo, pois para quem não notou a estrutura em que se baseia o mangá se assemelha e muito ás nossas novelas e seus dramas (incluindo aí o elemento humano de seus temores e dramas mais profundos), sem contar que há uma história contínua com começo, meio e fim.

Mas como sempre acontece, o discípulo superou o mestre, pois os animes e mangás, mesmo com todos os seus defeitos, sempre nos mostram uma boa lição sobre valores que estão em falta hoje em dia.

Num comparativo mais abrangente, as antigas gerações sempre perguntam o que aconteceu com a juventude que vive na mais absoluta desordem e caos, o que não é verdade. Por que? Perguntariam os mais conservadores. O que acontece hoje em dia é que a informação está mais acessível ás pessoas, seja ela escrita ou eletrônica, provocando uma certa confusão á todas as pessoas que querem apenas saber coisas simples, como o seu próprio cotidiano. Infelizmente, os seriados, sejam eles brasileiros ou até americanos (não há muito o costume de se fazer seriados japoneses, com exceção de novelas de meia hora e live actions) exibem uma realidade com a qual a pessoa não se identifica, sendo induzida ao erro. Comportamentos fora do padrão, como achar que se é melhor do que os outros por ser malandro, ser popular por namorar qualquer um sem caráter não se tornam a exceção, mas a regra. O objetivo do alerta, não é ser moralista, mas sim contestar que a sociedade atual está sem personalidade para saber o que realmente quer, estamos virando uma sociedade em que status se resume a ser fútil, desmiolado e tratar o mundo com descaso. Sabemos que a humanidade é melhor do que isso.

Nesse sentido, os mangás e animes por incrível que pareça, nos ensinam coisas que se perderam, como a valorização das tradições, respeito aos mais velhos e por que não a valorização da amizade e o mais importante, o respeito aos nossos pais.

Lógico que isso não é de hoje, mas remontam desde o principio dos mangás e foram se fortalecendo ao longo dos anos e mesmo que a sociedade nipônica, como a brasileira, possui seus defeitos, mas devemos aprender a parte boa, não se inspirar na parte ruim.

Nesse ponto, notamos que a sociedade americana dita como a “mais democrática” do mundo demonstrou ser a mais intolerante do mundo com relação ao que é diferente de seu pensamento, acabando por disseminar uma ideologia que tudo que foge ao padrão normal deve ser erradicado.

Um exemplo, se há um muçulmano que gosta de viver de tal maneira que a vista deles “pareça errado” deve ser convencido que não deve orar para seu Deus e deve largar uma vida austera e se dedicar ao fast food, ao segregacionismo e o “estilo de vida americano ”.Decida qual o melhor sem nenhuma pressão, pois nascemos com livre arbítrio e sabemos o que é melhor para nós.

Alem do mais, percebemos que há um culto a falta de personalidade vigente hoje em dia, parece até mais um disparate ficar alardeando que estamos perdendo nossas verdadeiras raízes, o que se verifica hoje em dia é que ninguém pode opinar de forma diferente, deve concordar com tudo. Mas uma questão acaba por se formar, se o Japão dito tão atrasado e preconceituoso aceita tanto as músicas e cultura brasileiras? Será que já não é hora de termos em mente que somos mais do que imitadores de uma cultura que já foi boa e hoje em dia contamina até nossa política, que aumenta impostos numa sanha absurda e não se investe um centavo naquilo que temos de melhor que é nossa cultura. Uma pena, mas como tudo tem solução e a melhor é cada um fazer sua parte e sermos a partir de sempre, um país de futuro. Basta acreditar.

terça-feira, abril 12, 2005

Como se constrói um fã e se destrói um ídolo

Critica-se á toda hora as atitudes de quem faz tudo pelo seu ídolo ou qualquer outra coisa, seja música, quadrinhos, novela e até desenhos animados. Quem nunca se sentiu discriminado por gostar de algo e ser chamado de ultrapassado e até imaturo? Esse tipo de comportamento só demonstra a total falta de conhecimento sobre a pessoa e seus gostos e ressalta-se algo de importante aqui: ser fã não significa ser alienado.

Muito pelo contrário, todo fã que se preza (não estamos falando dos idólatras doentes que além de serem uma minoria, não refletem o pensamento geral sobre o comportamento daqueles que apenas querem se divertir) tem vida social, amigos, se informam, discute e debate sobre o que acontece no mundo e ao seu redor.

Pode parecer estranho dizer que pessoas que se vestem como motoqueiros e até de personagens de desenhos animados e que parecem anormais para a maioria das pessoas somente estão expondo um lado saudável de suas vidas, marcadas por trabalhos estressantes, rotinas estafantes e extremo nervosismo estão fazendo apenas isso, se divertindo. Quem nunca pulou carnaval ou foi a uma festa á fantasia? É isso que estão colocando á tona, seu lado mais brincalhão e saudável (lembrando que não devemos generalizar, pois grupos de motorclubes e associações dedicadas a um assunto ou série não são apenas pessoas fantasiadas e que se divertem e sim pessoas sérias que tem um estilo de vida e até trabalham com o que gostam) nos grupos ou lugares aos quais não se sentirá recriminado por gostar de determinada coisa.

Por outro lado, lembremos que os ídolos apresentados ao público devem ter em mente que se tal pessoa que gosta do seu trabalho e até se dedica a entender sobre sua obra deve ser a primeira a ser lembrada quando o sucesso chega, pois pessoas não são apenas números, mas também aqueles que sustentam sua fama. O que ocorre hoje em dia é o culto á celebridades instantâneas e sem profundidade. Será que realmente vale a pena gostar de alguém que trata o público como súdito e vive pensando que sua fama é um reino ditatorial? Sem esquecer que tudo pode ruir a qualquer momento levando ao maior temor dessa espécie de ídolo, o esquecimento.

Tanto o fã quanto o ídolo devem ter a noção exata entre o respeito ás pessoas e sua individualidade, lembrando que são apenas seres humanos que apreciam um bom trabalho e que também tem relacionamentos trabalham e vivem como qualquer outra pessoa. Não há nenhuma diferença entre eles, somente dinheiro e disponibilidade em ter ou perseguir a fama.

Com as produções e pequenos eventos (sobre qualquer coisa além de mangá ou anime, pode até ser uma exposição de teatro amador ou até um evento de agropecuária) ou até feiras esse quadro de idolatria se alastra cada vez mais. A diferença é que os lugares onde se cultuam pessoas são pequenos núcleos que formam microuniversos que são ignorados pelo grande público, exemplos como bandas daqui mesmo que tocam em lugares dos quais jamais se ouvir falar até de cantores ou desenhistas de fora que são ignorados pelas massas (lembremos que quem cultua essas pessoas já estão na casa dos trinta anos e a nova geração sequer ouviu falar de tais indivíduos). Muitos perguntarão qual o lugar onde impera “o rei na barriga”, não há uma resposta consistente a se dar, pois não há apenas um lugar, mas vários.

Observando mais a fundo, percebemos como um pequeno sucesso já faz um tremendo estrago numa pessoa a tal ponto de fazer exigências pífias e sem sentido. Infelizmente esse é o quadro atual com pessoas adorando a inconsistência sem conteúdo, a apologia ao crime e a desagregação familiar. Careta para uns, mas alarmante para outros (principalmente quando tais pessoas cresceram sequer sem saber o que é certo ou errado).

Do lado do fã notamos uma tendência de se vestir de maneira rebelde para chamar a atenção.Não que a roupa em si seja o problema, o que falta hoje em dia é atitude nas pessoas para ter personalidade e opinião sem ter que consultar os outros. Egoísmo? Por incrível que pareça isso se chama individualidade (personalidade própria) e não individualismo (ser extremamente egoísta). Gostar de algo ou trabalhar para que algo dê certo é louvável, portanto seja o que você faça, faça com dedicação sem pensar que muitos o adorarão, isso é apenas o resultado e não a causa de seu trabalho.

Para todos aqueles que pensam que fama se constrói com escândalos, egocentrismo, arrogância ou estupidez vai um alerta: um trabalho bem feito dura para sempre, mas um trabalho meia-boca desaparece tão rápido quando surgiu e leva seu autor ou mais profundo esquecimento. Para os fãs ou pessoas dedicadas a um ídolo lembrem-se que eles também erram e se eles o tratarem mal, lembre-o que somente alcançou posição de destaque por sua causa e nunca, mas nunca mesmo deixe de tocar sua vida por causa de alguém.

Ricardo Bomfim é roteirista. Para todos que querem ouvir boa música ou filmes, séries ou desenhos animados procure não ter preconceito e apure seu gosto com diversidade e certamente algo lhe agradará em cheio.

segunda-feira, abril 11, 2005

A verdadeira razão de existirem musas

Hoje em dia se tem o hábito de dizer que tal pessoa inspirou alguém em algum trabalho e até deu algo de sua essência para fazer um autor conceber uma bela personagem. Mas qual é a verdade nisso?

Sabemos que a maioria dos autores (principalmente homens) usam personagens femininas para expressar um ideal de mulher, seja ela a perfeição encarnada ou aquela que represente um ideal de mãe, sendo dedicada, atenciosa e amorosa conosco. Muitos podem até dizer que isso não passa de fantasia pura e simples, que não há mulher perfeita e amor é para os tolos. Sabemos que concordamos com isso, mas nos damos a liberdade de criar um ideal de mulher que é perfeita para nós naquela circunstância e momento e não significa que será daquele jeito a vida toda.

Hoje em dia os autores se esquecem de criar personagens femininas com características de mulher, como maior dedicação aos seus objetivos, obstinação e um grande poder de observação, compreendendo o mundo de uma forma mais sensível. Infelizmente, para os insensíveis de plantão, lembrem-se: os bons autores sempre são grandes observadores da condição humana e de seus defeitos e qualidades, não se atendo a apenas o mito arraigado hoje em dia que as mulheres devem se igualar aos homens, o que pode ser uma violência, pois o que torna os sexos tão interessantes uns aos outros é exatamente suas diferenças (lógico que não se está aqui defendendo a opressão ao sexo oposto, mas sim uma interação) e alguém apaixonado pelas diferenças e contradições que todos nós, humanos apresentamos reconhece que tudo que nos cerca é um grande laboratório.

Voltando ás musas, por que os autores gostam tanto de exaltá-las?

Uns dirão que o autor é frustrado e quer um ideal que não existe, outros dirão que é um machista que enxerga sua personagem como uma massa sem cérebro ou até os mais exaltados dirão que não tem sensibilidade para conhecer uma fêmea de verdade.

O que realmente acontece é as pessoas estão se esquecendo de conhecer melhor uma as outras e com as musas não é diferente. Todos querem idealizar, mas não querem conhecer. Eu, como roteirista, quando me apaixono por uma personagem feminina tenho em mente não só meu sentimento com relação á ela, mas gosto de lhe transmitir características femininas, não apenas os clichês de personagem boazuda ou disponível 24 horas para seu mestre (se é pra isso, escrevo hentai, já que serve pra esse propósito mesmo) ou até o que eu abomino, a chamada “maria-homem” que só falta pegar touro á unha e comer o bife do pobre animal ainda sangrando. Tenho em mente que nem as mulheres gostam de serem retratadas assim...

E foi lendo um fanfic da Internet que me dei conta que nossos pobres roteiristas (me incluo nessa categoria, lógico) ainda querem um grande amor literário com tramas mirabolantes quando na verdade podem ter excelentes histórias apenas observando as pessoas que lhe inspiram a fazer algo de útil em suas vidas, como suas amigas, namoradas ou mães.

Enfim, aqui vai um conselho: não procure pela princesa encantada quando a gata borralheira ao lado pode lhe trazer bem mais felicidade.

Ricardo Bomfim é roteirista e observador. Recomenda para leitura (se você lê em inglês, mas se não souber, peça para alguém traduzir) o excelente trabalho de um desenhista filipino chamado Bleedman no site: http://bleedman.snafu-comics.com/

Que cultura estamos deixando para nossas gerações?

Vendo uma reportagem no Fantástico de 30 de agosto de 2004 chegamos a um dado preocupante: qual o interesse da juventude atual?

Infelizmente uma parcela considerável de nossos jovens não está pensando que um dia serão adultos com um certo grau de responsabilidade e incentivados pela mídia são estimulados a um consumo desenfreado de valores que não condizem com nossa realidade, como o segregacionismo (separar quem é diferente) e a uniformização do pensamento. Expressões como “ficar”, “agarrar” e “sair catando” estão cada vez mais deixando os pais de cabelos em pé.

Até no Japão, que para muitos otakus de carteirinha consideram o berço da boa educação, está em franca decadência. Os jovens de lá estão desaprendendo sua língua de origem e usando cada vez expressões emprestadas do inglês sem nenhum critério.

Qual o problema do Brasil? Um deles certamente é a falta de uma identidade que nos defina como verdadeiramente brasileiros, sem esquecer que nossa cultura é muito rica em termos regionais e não há razão para se ter vergonha de nossa cultura nativa. Isso não significa que devamos seguir o exemplo americano e achar que uma cultura diferente vai “contaminar” a nossa só pelo fato de ser diferente.

Muitas pessoas dizem que não temos identidade, o que é uma mentira, pois temos o melhor da melhoria de um povo, a assimilação e o respeito pelas culturas diferentes. O que não há hoje é um maior respeito pelo antigo, pois nos esquecemos muito fácil de nosso passado. Como todo mundo sabe um país sem passado é um país sem futuro.

Mas porque tamanho descaso com nossos jovens e possíveis líderes do futuro para com a cultura vigente? Muitos acham que é a televisão que marginaliza as pessoas, fazendo-as concordar com tudo que há á sua volta sem questionar quando na verdade todos querem um rumo mais concreto em suas vidas com relação aos valores culturais do mundo atual.

Sentiu-se isso com o fim de um Papa carismático como João Paulo II. Gostaríamos de saber se temos alguém no ramo cultural que possa ter tamanha mobilização em torno de si. Lógico que qualquer religião não deve ser a válvula de escape para a repressão pura e simples de seus cidadãos, mas sim um alento para as horas difíceis.